Com US$ 681 bilhões em vendas online em 2016, a China é o maior mercado de e-commerce mundial, seguido pelos EUA. O mais rápido em crescimento é a Índia.
O mundo parece observar atentamente a Índia enquanto ela se torna um grande player no comércio eletrônico. Há muito para jogar e apostar nessa indústria, mas muitas marcas precisam de uma pequena orientação.
Como está o cenário de e-commerce na Índia?
Neste ano, tivemos a oportunidade de visitar o país duas vezes. A primeira visita foi em março, em Mumbai e Bangalore – cidade apontada como o “Vale do Silício” da Índia e, de acordo com dados de 2015 da NASSCOM e Zinnov, é onde 26% das startups do país estão localizadas. Em junho, visitamos novamente Mumbai e depois Nova Délhi – esta, por sua vez, em plena ascensão tecnológica, construindo enormes centros empresariais nos arredores da cidade.
Após conversas com muitas pessoas do ramo, de empresas como a Myntra (do grupo Flipkart), Tata Consultancy Services – TCS (divisão de consultoria da Tata Group), Browntape e Techouts, a conclusão é que este é o momento para a Índia brilhar e a oportunidade ideal para as empresas expandirem suas operações para o país, a fim de explorar um mercado em plena ascensão.
Segundo um levantamento feito pelas Nações Unidas em julho de 2016, a Índia possui uma população com mais de 1,3 bilhões de habitantes, sendo o segundo país mais populoso do mundo. Estima-se que até o final de 2017 existam mais de 500 milhões de habitantes online, conforme estimativa da Internet & Mobile Association of India (Associação Indiana de Internet e Dispositivos Móveis, em tradução livre).
As vendas no varejo online na Índia devem aumentar para aproximadamente US$ 45,1 bilhões até 2021, alavancados pelo aumento anual no uso de internet e dispositivos móveis. De acordo com a GSMA, entidade global de telefonia móvel, o país possui atualmente mais de 730 milhões de usuários únicos com acesso à internet através de smartphones, ou seja, um alcance de 54% da população.
Sem dúvidas, um dos principais fatores que influenciou o fortalecimento do comércio eletrônico, além do aumento de pessoas conectadas, é a desmonetização da economia indiana (foram retiradas de circulação as cédulas de 500 e 1.000 rúpias) realizada pelo primeiro ministro Narendra Modi, limitando a escolha da população e favorecendo a compra online.
Qual é o impacto desse crescimento?
O amadurecimento do e-commerce na Índia e o cenário promissor atraiu a atenção de marcas ocidentais, como a Amazon e Walmart. A VTEX também percebeu a oportunidade e, por consequência, abrirá um escritório em Mumbai ainda em 2017, cuja operação será desenvolvida em parceria com a indiana Techouts.
A China, outra grande história de sucesso dos últimos anos, também manifestou interesse em entrar no dinâmico mercado indiano. O gigante chinês Alibaba anunciou, no final de 2016, que pretende abrir um escritório em Mumbai como parte do plano para obter uma fatia desse mercado, atualmente dominado pelas empresas nacionais Flipkart, Myntra e Snapdeal.
Um modelo que se mostra bastante promissor no país é o marketplace. Segundo o estudo “Global Powers of Retailing 2015” realizado pela Deloitte, os marketplaces tendem a servir como o principal modelo de comércio eletrônico na Ásia, principalmente na Índia, onde há uma alta fragmentação e regionalização de ofertas.
O aumento das vendas online nos mercados em desenvolvimento está incentivando os varejistas a expandirem suas operações a nível global. Os eRetailers estão se tornando parceiros exclusivos para diferentes marcas, como a chinesa Xiaomi, por exemplo, que entrou no mercado indiano através do marketplace Flipkart. Tal estratégia permitiu à fabricante de celulares alcançar uma grande base de clientes em pouco tempo, o que resultou em sua carreira solo no e-commerce do país.
Quais são os maiores desafios para expandir uma operação para a India?
Estabelecer e desenvolver uma loja online é desafiador, independentemente de onde você estiver no mundo. No entanto, com perspectivas brilhantes para o e-commerce indiano à vista, é importante, mais do que nunca, dar à sua marca um ajuste digital internacional.
Em agosto de 2015, o governo indiano anunciou uma campanha chamada Startup India para incentivar o empreendedorismo e a posterior criação de empregos. Como parte da campanha, novas políticas foram criadas para promover o setup facilitado de novos negócios no país e evitar as barreiras burocráticas típicas que as empresas costumavam enfrentar.
Dentre as iniciativas do Startup India que foram implementadas pelo governo, incluem-se:
- a redução em 80% da taxa de registro de patentes;
- o incentivo fiscal por três anos;
- e o lançamento de um fundo para fornecer capital inicial no valor de 100 bilhões de rúpias (mais de US$ 1,5 bilhões).
Ao considerarem atuar internacionalmente, as empresas poderão enfrentar alguns desafios e complexidades em relação à venda doméstica, à qual estão acostumadas. É parte destes obstáculos oferecer uma experiência de compra localizada, produtos no idioma, tamanho e moeda do mercado desejado, serviços de atendimento ao consumidor na língua local e os meios de pagamento com os quais seu público-alvo esteja mais acostumado e confortável. Assim, essas companhias garantirão que a experiência de compra seja favorável do começo ao fim e aumentarão as chances de crescimento do empreendimento no país.
Como é de conhecimento público, a Índia é um dos países que mais oferece serviços outsourcing do mundo. Logo, é possível iniciar operações em solo indiano, terceirizando certas funções do e-commerce através de empresas locais especializadas, também conhecidas como facilitadores – ou em inglês: enablers – o que ajudará os varejistas a se concentrarem nas atividades principais, até ganharem escala e estabelecerem uma equipe própria para internalizar todas as funções.
Há três tipos principais de facilitadores: empresas de operação e logística, de tecnologia e de pagamento.
- Operação e logística:
Logística é uma função crítica para lojas virtuais, já que envolve o transporte seguro e rápido das mercadorias do armazém para o cliente. Na Índia, apenas poucas empresas internacionais de logística, como a Blue Dart (subsidiária da DHL), TNT e FedEx, atendem o mercado, que é dominado por um grande número de pequenos intermediários e operadores logísticos de terceiros, que trabalham para gerenciar as operações dos clientes.
Empresas como Gati e Delhivery são muito conhecidas localmente e oferecem serviços logísticos completos, desde a armazenagem e controle do inventário até a entrega. Já a Blubox e a Browntape possuem uma gama de serviços mais ampla. Além do pacote logístico, cuidam também das promoções e do atendimento ao cliente.
- Tecnologia:
A função da tecnologia refere-se amplamente à infraestrutura e às pessoas necessárias para manter e executar sites e aplicativos de comércio eletrônico de forma segura e eficaz. Como todas as funções em um negócio tendem a usar a tecnologia de alguma forma, as referências à tecnologia nesta seção consideram especificamente o transacional de uma loja virtual.
Como mencionado anteriormente, enxergamos na Índia o potencial que o país oferece e percebemos que o cenário é muito similar ao do Brasil 10 anos atrás. Durante nossa passagem por Mumbai, nas reuniões com um dos sócios da Techouts, houve uma sinergia instantânea, criando a oportunidade de unirmos nossa tecnologia com o conhecimento de mercado da Techouts, formando o maior facilitador tecnológico para empresas que queiram atuar no país.
- Pagamento:
O setor de comércio eletrônico indiano é fortemente dependente da forma de pagamento Cash on Delivery (CoD), pois é a escolha preferida dos consumidores locais devido à falta de confiança nas transações online, à baixa penetração de cartões de crédito e débito, entre outras. O modelo de pagamento em dinheiro na entrega corresponde a quase 70% das transações online e está disponível em 600 cidades da Índia.
Os bancos estão criando diferentes modelos para incentivar o uso do cartão de crédito ou débito, como pagamento parcelado (localmente chamado de Easy Monthly Installment – EMI) e programa de pontos para resgatar benefícios ou dinheiro (cashback). Entre os vários serviços de pagamento disponíveis no país, os mais conhecidos e amplamente utilizados são CCAvenue, BillDesk e TechProcess.
Como fruto da desmonetização, a Índia viu um aumento fenomenal no número de carteiras digitais (eWallets)e está se movendo lentamente para ser um país sem dinheiro. Startups como Paytm e FreeCharge permitem que os consumidores façam compras online e offline, além de poderem pagar suas contas de serviços, como luz e celular. Outras empresas que oferecem tal serviço são Airtel Money e Citi MasterPass.
Perspectivas: por que uma empresa brasileira deveria explorar o mercado indiano?
A Índia está à beira de uma revolução no comércio eletrônico. Embora o e-commerce esteja presente no país há mais de uma década, apenas nos últimos anos é que o ecossistema apropriado começou a se desenvolver.
Fatores como investimento robusto, aumento no acesso à internet, entre outros já mencionados, impulsionaram o crescimento desta indústria e, se as projeções atuais acontecerem, a Índia está em rota para se tornar o mercado de comércio eletrônico com o crescimento mais rápido da história.
O país possui cultura e hábitos extremamente peculiares, como a sua culinária, a personalidade de seu povo e o seu vestuário. Entretanto, o comportamento online se assemelha muito à cultura do e-commerce de países emergentes como o Brasil.
Em linhas gerais, há dois tipos de usuários: aqueles que querem a melhor oferta e desconto, deixando a qualidade e tempo de entrega em segundo plano, e aqueles que procuram qualidade e entrega rápida.
Os brasileiros costumam ser muito versáteis e criativos. Eles passam por um momento distinto na economia e conseguem fazer a indústria do e-commerce crescer no país a ponto de se tornar referência internacional nos mais variados relatórios e pesquisas mundiais.
Por esses motivos, acreditamos que exista um enorme potencial para as empresas brasileiras expandirem suas atividades para a Índia. No entanto, não estarão livres de desafios, sejam operacionais, legais ou digitais, e a escolha dos parceiros facilitadores será, sem dúvida, crucial para o sucesso dessa jornada.