O que FAZER e o que NÃO FAZER durante um processo seletivo para Design de Produto

Bianca Galvão
Bianca Galvão July 7, 2021
O que FAZER e o que NÃO FAZER durante um processo seletivo para Design de Produto

Depois de 10 anos de experiência na área e durante 5 anos atuando como Gerente de Design de Produto, eu tive, várias vezes, a responsabilidade de encontrar, avaliar e contratar designers para trabalhar no meu time. Durante este processo notei que muitos dos candidatos que tinham tudo para dar certo na vaga de trabalho falharam em alguns aspectos que eram difíceis de ignorar.

Especificamente no Brasil, dada a crise que enfrentamos nos dias de hoje, fico triste quando tenho que negar a algumas pessoas a oportunidade de trabalho devido a pequenos erros que podiam facilmente ser evitados. Portanto, considerando que algumas orientações podem mudar este cenário, eu decidi escrever este artigo com dicas para ajudar a melhorar essas habilidades praticamente não-ensináveis.

Os tópicos podem parecer um pouco óbvios (e se for o caso, ótimo para você!). Mas, acredite, tudo que você lerá a seguir é baseado em processos seletivos que aconteceram de verdade, para vagas em todos os níveis, de estagiários até designers de produto sênior. Então, aqui vamos nós…

Currículo

O objetivo do currículo é apresentar o seu histórico e deixar claro como você adquiriu as habilidades para aplicar-se à vaga. Algumas empresas usam apenas o perfil do LinkedIn para ver isso, mas outras ainda requerem um documento. Mais importante do que o formato, é ter em mente que as informações contidas nele devem ser verdadeiras, diretas ao ponto e claras, porque diferentes setores da empresas irão checá-lo, como o RH, diretores e, é claro, os designers.

Top 5 dicas para o currículo:

1. Adicione o seu e-mail e o link para o portfólio no seu perfil do LinkedIn

Ao procurar por candidatos no LinkedIn, eu sempre acho difícil entrar em contato com eles rapidamente. Dado como as mensagens funcionam por lá, depois de enviar uma solicitação de conexão, há um tempo de espera antes de começar uma conversa. Um jeito de simplificar, quando se está procurando por um emprego, é escrever o seu endereço de e-mail na descrição do perfil. Se você quer tornar o processo ainda mais rápido e fácil para o recrutador, adicione também o link do seu portfólio, já que provavelmente será a primeira coisa que ele vai pedir ao entrar em contato.

2. Não elabore muito

Há um bom tempo surgiu a tendência de inovar no layout de currículos. Infográficos, linhas do tempo, nuvens de palavras, ícones de humor e vários outros elementos passaram a ser vistos como uma boa forma de começar a mostrar seu trabalho enquanto designer. Infelizmente, na maioria das vezes, preciso discordar desta opção.

O que acontece na realidade é que designers estão se forçando a fazê-lo como se fosse uma habilidade crucial. Isso acaba mostrando que eles não têm experiência suficiente, seja para fazer com que fique bom e consistente com o trabalho do seu portfólio, ou pior, para ser facilmente compreensível. Então, se você não tem tempo ou segurança o suficiente para fazer isso bem, não faça. Mantenha a simplicidade e lembre-se de que você pode ir incrementando com o tempo. Uma página minimalista com um texto simples será melhor para mim neste caso, porque como eu disse, é necessário ser direto e claro, e isto é tudo.

3. Adicione um link ou um QR Code para seu portfólio

Estamos falando de uma vaga de experiência de usuário, certo? Então, como mencionado nos itens anteriores, o mínimo que você pode fazer é dar ao seu futuro empregador uma experiência satisfatória ao recrutá-lo. Enviar seu currículo como uma imagem JPEG não é o jeito de garantir isso. Em vez disso, experimente algo que permita interação, como um arquivo de texto ou um PDF, em que você possa adicionar links ou QR codes ao seu portfólio. O importante é garantir que a pessoa que, possivelmente, irá contratá-lo tenha acesso direto aos seus cases, não a faça digitar um link no navegador.

4. Não exiba ou não dê a mesma importância à atividades secundárias

Outra coisa que pode confundir recrutadores é quando o candidato lista atividades paralelas junto à informação de graduação e das experiências de trabalho. Para algumas empresas, ter um diploma de ensino superior é um requisito para a contratação.

Dada a infinidade de cursos online que existem hoje em dia, é indicado usar conceitos de hierarquia visual para dar a importância certa a cada marco educacional. O mesmo se aplica a participações em eventos ou trabalho voluntário, e você não deve se dar ao trabalho de adicioná-los se os mesmos não se relacionarem ao tipo de trabalho ou setor da empresa em questão. Simplesmente não fará diferença.

5. Comunique-se formalmente

Ao escrever um e-mail ou mensagem ao empregador, tente evitar termos muito informais como “cara” ou “né”. Você não precisa, claro, usar uma linguagem erudita, afinal de contas, as posições de trabalho para designers são mais liberais. Mas, por favor, não se esqueça de que isso continua sendo uma conversa profissional. A maneira como você se comunica pode dizer muito sobre a seriedade com que você lida com o seu trabalho e o quanto respeita os outros colegas.

Portfólio / Case

Para apresentar um bom portfólio ele não precisa ser um show incrível de pirotecnias. Ele apenas precisa ser acessível e mostrar o que importa ao recrutador, que é o que você construiu até agora, para que ele possa projetar o que você será capaz de fazer no futuro. Eu já vi portfólios de todos os tipos: websites, vídeos, aplicativos, PDFs, PPTs, e até mesmo imagens anexadas a um e-mail.

Todo mundo sabe que, às vezes, você está tão atarefado no trabalho que talvez não tenha tempo de preparar algo melhor. Está tudo bem, de verdade. Não importa como eu vou acessar o case, desde que seja fácil e forneça conteúdo de qualidade.

Top 5 dicas para o portfólio ou case:

1. Seja cuidadoso com os detalhes

Atenção! Quando digo que não importa como você vai apresentar o portfólio, não estou sugerindo que o faça de forma descuidada. Pelo contrário, prestar atenção aos detalhes é muito importante para qualquer profissional, não apenas designers de produto (você pode ler mais sobre isso neste outro artigo meu, apenas em inglês).

No entanto, se você está se candidatando a uma vaga nesta área, por favor, não dê dicas ao seu futuro empregador de que você é um designer negligente. Basicamente, trabalhe em seu portfólio da mesma forma que trabalharia em um projeto para um cliente, ou seja: Não use imagens de baixa qualidade; Não se esqueça de respeitar grids e alinhamentos; Revise tudo o que você escreve para evitar erros ortográficos ou de digitação etc.

2. Mostre o seu processo e os bastidores do trabalho

As pessoas estão acostumadas a pensar que imagens lindas e bons trabalhos de interface visual são exclusivamente o que impressiona em um portfólio. Supere isto se quiser ser um designer de produto! Nós também somos aqueles que fazem o trabalho sujo de pesquisa, arquitetura de informação, redação de textos e muitos outros.

É por isso que, além de mostrar os layouts, você também deve explicar como foi o seu processo até chegar àquele resultado (veja um bom exemplo disso neste artigo, apenas em inglês). Um bom designer de produto foca mais nos “PORQUEs” e nos “COMOs” do que nos “O QUEs”, então não seja tímido e mostre a todos o seu processo, os fluxos de navegação e os rabiscos feios que você fez. Isso será uma prova melhor de que você tem a mentalidade certa e a experiência necessária para o trabalho.

3. Não mostre trabalhos antigos, mostre apenas cases bons e relevantes

Também é comum recebermos portfólios com muito trabalho que foi feito ao longo da vida profissional dos candidatos, mas o fato é que cada projeto no qual você trabalha o faz evoluir e melhorar, então por que mostrar um passado ruim quando você pode apenas apresentar um bom presente?

No mundo do design de produto, tudo muda muito rápido. Estilos, comportamento dos usuários, interações e padrões de navegação. Portanto, encher o seu portfólio com projetos antigos abre margem para ter suas habilidades e decisões questionadas. Para manter um projeto antigo, certifique-se de que ele continua relevante (sendo um produto consolidado ou visto como uma referência por outras pessoas). A mesma lógica se aplica para cases de áreas que não estão ligadas à vaga em questão, uma vez que eles podem passar a impressão de que o seu foco profissional está em competências que podem não ser importantes para aquela empresa. Lembre-se: é preferível ter somente um case atual e relevante do que uma grande lista de trabalhos irrelevantes e desatualizados.

4. Descreva exatamente o que você fez durante o projeto

Projetos de design são frequentemente complexos e envolvem diferentes tipos de habilidades, como também pessoas de vários perfis e áreas. Se você expuser um case no seu portfólio sem descrever a sua real participação nele, dois cenários possíveis podem acontecer: o recrutador pode interpretar que você é responsável por tudo (e pode questioná-lo ou responsabilizá-lo por todo o processo), ou pior, achar que você pode estar tentando ganhar crédito pelo trabalho de outra pessoa.

Ser específico sobre o seu papel durante um projeto e como você colaborou com outras pessoas, por menor que tenha sido a participação, ajuda-nos a entender que tipo de profissional você é, em que tipo de habilidades você é mais forte, e como você trabalha em equipe. Essas são premissas importantes para concluir se você realmente se encaixa na vaga e na cultura da empresa.

5. Invista na narrativa e seja breve nas descrições

Recrutadores são profissionais expostos a um grande número de perfis diariamente. Textos longos e desnecessariamente elaborados não vão aumentar suas chances de sucesso no processo de contratação. Ao contrário, fará com que eles gastem mais tempo que desejam para avaliar o seu trabalho.

A descrição de um projeto deve sempre contar a história de forma sucinta: apresentando o problema, o contexto, como você conduziu o seu trabalho em cada etapa, quais foram os obstáculos e desafios enfrentados e o resultado final (o que foi entregue e qual impacto gerou para o negócio). Além disso, tente balancear a quantidade de textos, imagens e espaços em branco como faria no próprio projeto. Lembre-se que há uma pessoa (um usuário) consumindo o conteúdo, então deve ser uma jornada fácil e agradável.

Entrevista

Finalmente, depois de apresentar os dois itens anteriores, seu potencial empregador provavelmente o convidará para uma entrevista. Este é o momento de provar cara a cara, mesmo por chamada de vídeo, do que você é capaz, mas também, mais importante do que isso, é o momento de mostrar quem você é.

Apesar de ser tentador convencê-lo de que você é a pessoa perfeita para o trabalho (talvez você mesmo perceba depois que não ‘deu match’), nenhuma palavra ou atitude fará isso melhor do que apenas ser você mesmo. Ser honesto, humilde e respeitoso sempre superará aquela postura quase arrogante de autopromoção que eu sei que você já viu por aí.

Top 5 dicas para a entrevista:

1. Conheça a empresa e seus produtos antes da entrevista

Se você pretende trabalhar na empresa em questão pelos próximos anos da sua vida, o mínimo que você pode fazer é entender precisamente com o que você estará trabalhando. Um pouco de pesquisa sobre a cultura, os objetivos da empresa e sobre os produtos que ela entrega é muito encorajado, para que você tenha certeza se é o que quer para a sua carreira, e também para mostrar o seu interesse pelo assunto.

Isso irá evitar que você seja pego de surpresa se alguma pergunta do tipo aparecer na entrevista. Se for o caso, use os produtos e desenvolva opiniões sobre eles. Não tenha medo de dizer o que pensa sobre o produto, e mesmo que não goste de algo, é sempre bom ouvir um feedback (espero que isso se aplique a todas as empresas), desde que venha com uma sugestão de como aquilo pode ser melhorado.

2. Seja pontual

Não acho que eu tenha que explicar esta, mas de qualquer forma: não chegar na hora para a entrevista mostra que você não se importa e é desrespeitoso com a pessoa que está considerando contratá-lo. Nós sabemos que imprevistos podem acontecer, portanto certifique-se de notificar quem está em contato com você o mais rápido possível se surgir algo que possa causar o seu atraso ou ausência. Essa atitude íntegra é o que devemos esperar de todos em ambos os lados.

3. Não minta se não souber alguma coisa

Este é provavelmente o tópico mais sensível porque, na minha opinião, nada tira mais a credibilidade de um candidato do que quando eu descubro que ele mentiu para se promover. Acredite, na maior parte das vezes recrutadores sabem quando você está mentindo, especialmente se fizerem perguntas complementares.

O único ganho em mentir em um processo é economizar tempo sendo eliminado rapidamente. E, se você passar, garanta que vai correr atrás para aprender o que deveria antes que alguém descubra a verdade, ou você será lembrado por isso. Brincadeiras à parte, seja honesto! Não há nada de errado em dizer que não sabe alguma coisa, muito pelo contrário, isso mostra que você é humilde, tem integridade e está aberto a aprender.

4. Não use qualidades como fraquezas

Ser perfeccionista não é uma fraqueza. É apenas uma qualidade positiva que, como outras, em quantidades extremas se transforma em algo ruim. Ao falar sobre pontos técnicos ou comportamentais que você ainda pode evoluir, seja franco pelas mesmas razões pelas quais não deve mentir. Quando este tipo de pergunta é feita, a verdade é que nós queremos saber se você é capaz de se autoavaliar e reconhecer habilidades que podem ser melhoradas. Isso não será um motivo para o reprovar.

5. Não traga vieses políticos para a conversa

Assim como religião, fofoca, ou problemas pessoais, visão política é um assunto que não deve ser abordado no ambiente de trabalho. Durante as entrevistas não é diferente. Este tipo de assunto, mesmo se apenas insinuado, nunca é relevante durante um processo de contratação, vai apenas deixar as pessoas desconfortáveis.

Muitos designers apresentam projetos com objetivos políticos, principalmente no atual cenário polarizado, e está tudo bem fazer isso desde que o foco esteja no trabalho de design feito e não em crenças ou posicionamentos.

Espero que tenha sido útil para todos que estiverem procurando por um emprego. Boa sorte!