Donos de e-commerce talvez se perguntem: é possível diminuir o estoque sem prejudicar as vendas? É possível montar uma loja virtual sem ter estoque próprio? A resposta é simples: sim!
Quando analisamos um e-commerce que já possui volume de vendas, o custo do estoque pode ser um dos grandes vilões da margem e do lucro. Isso acontece porque, para alguns segmentos, o custo da cobertura de estoque pode ser muito cara.
O que é cobertura de estoque?
A cobertura de estoque é um indicador que nos mostra o tempo em dias que a disponibilidade de produtos cobre as demandas futuras de vendas. Ou seja, para o estoque atual, demoraremos X dias até que o estoque se esgote.
Cálculo de cobertura de estoque
A conta da cobertura de estoque é bastante simples e é representada por:
Vamos supor os seguintes dados:
Estoque disponível = 1.000 unidades
Média de venda por dia = 10 unidades
Cobertura = 100 dias
Como vimos acima, o estoque de 1.000 unidades irá durar 100 dias. Sendo assim, esse estoque, ao longo desse período, irá gerar diversos custos para o e-commerce, como armazenagem, depreciação, seguro, entre outros.
Quanto maior for a cobertura de estoque, maior será o custo total de um e-commerce para manter aquele estoque disponível para vendas.
A importância da cobertura de estoque
Cobertura de estoque e vendas estão intimamente ligados, principalmente quando falamos de e-commerce. Isso acontece por dois principais fatores:
- a) No e-commerce não existe um local físico para expor os produtos, já que tudo é feito por meio da plataforma de e-commerce. A capacidade de exposição é quase ilimitada. Por esse motivo, é normal o lojista optar por ter um grande mix de produtos. Essa, inclusive, é uma demanda do próprio cliente. Afinal, quem nunca acessou uma loja virtual e se frustrou ao ver que um determinado produto não estava à venda ou estava esgotado?
- b) Um dos principais fatores para aumentar as vendas no e-commerce é aumentar o fluxo de visitantes da loja, sendo que uma das estratégias é a mídia paga. Ou seja, investir em mídia online (para gerar tráfego e não ter o produto disponível, ou produtos similares) pode impactar diretamente no ROI e na taxa de conversão.
Avaliando esses dois pontos, podemos ver que, por um lado, quanto maior for o estoque da loja virtual, maior serão as vendas, o ROI, a conversão, e melhor a experiência para o cliente. Mas, na visão de operações, o aumento do estoque pode incorrer em altos custos, inclusive prejudicando a rentabilidade.
Por outro lado, quanto menor é o estoque, menor é o custo operacional, muito embora, provavelmente, menor serão as vendas, o ROI, a conversão, e pior será a experiência para o cliente.
O real impacto do custo de estoque
Encontrar o ponto ideal entre cobertura de estoque e vendas é fundamental para aumentar a rentabilidade do e-commerce. Porém, em alguns segmentos, essa avaliação pode ser decisiva entre fechar as portas ou ser rentável.
Segundo a revista PEGN, dos 3 departamentos que mais vendem pela internet, dois deles possuem um grande valor de compra de mercadoria (CMV): eletrodomésticos e telefonia/celular.
Nesses dois segmentos, lojas bem administradas possuem baixa cobertura de estoque entre 25 e 40 dias. Entretanto, como o custo da mercadoria (CMV) é muito elevado, os custos totais do estoque também o são. Um ou dois dias de ganho podem representar uma grande economia.
Em outros segmentos, como moda, que foi o mais vendido mesmo tendo o CMV mais baixo que os demais, o produto é trabalhado com grade: tamanho e cor. Isso obriga o lojista a ter uma grande disponibilidade, em torno de 180 a 200 dias para lojas bem administradas.
Com isso, podemos concluir que a correta administração de estoque pode, além de diminuir custos, gerar um ponto de equilíbrio ideal que aumentará a rentabilidade da loja.
Iremos abordar adiante algumas estratégias que surgiram com a evolução do e-commerce.
Como montar uma loja virtual sem estoque próprio?
Levando em consideração que o objetivo é montar uma loja virtual com menor cobertura de estoque possível, já que gera menores custos, ou até mesmo sem estoque, precisaremos nos atentar a alguns pontos. Alguns deles a seguir:
• Escolher um nicho favorável, o qual tenha uma produção e reposição rápida de produtos, além de ter um processo logístico fácil; • Procurar desenvolver um relacionamento forte com os fornecedores, afinal, depende exclusivamente deles para que o negócio cresça; • Investigar de forma completa a maneira que esses fornecedores trabalham: se cumprem os prazos, se os produtos são de qualidade, a política de preços e, principalmente, se os profissionais são organizados em suas rotinas; • Avaliar corretamente o custo da mercadoria para validar a cobertura de estoque como um dos principais custos; • Pesquisar no segmento da loja qual é a cobertura de estoque, em dias, ideal para o e-commerce não sofrer queda em vendas.
Quais as alternativas para montar uma loja virtual sem estoque próprio?
Apresentaremos algumas estratégias que surgiram ao longo do tempo com o e-commerce e são peças fundamentais para ajudar a diminuir os custos de estoque, ou para chegar ao ponto de não precisarmos mais de um estoque para vender.
1. Cross docking
A maneira mais simples de se trabalhar no e-commerce sem estoque é o cross docking. Nessa modalidade, a loja deve trabalhar muito próxima do fornecedor, e sempre que um pedido for realizado, o fornecedor deve ser acionado para enviar um dos produtos.
Na prática, o consumidor fará a compra na loja virtual, que irá solicitar a mercadoria ao fornecedor que, por sua vez, irá enviá-la. Ao receber a mercadoria, ela deve ser conferida e embalada para depois ser encaminhada ao destinatário. As vantagens desse modelo envolvem não correr o risco de ter produtos parados em estoque, além de que eles passarão pela loja antes de serem enviados ao cliente. Muitas lojas de móveis trabalham com essa estratégia.
Porém, ao adotar essa estratégia é necessário atentar a dois pontos:
- a) O prazo de entrega poderá ser elevado em comparação a outras lojas. Então avalie como seria o impacto nas vendas caso o prazo fosse maior do que o dos concorrentes;
- b) Como agora a loja comprará sempre que vender, a força de negociação e o CMV podem aumentar consideravelmente.
- Atenção: como o produto será comprado do fornecedor e revendido para um cliente final, é preciso o cuidado para não inflar muito o valor da compra, resultando em um preço pouco atrativo no mercado.
2. Dropshipping
Já com o dropshipping, o fornecedor será responsável pela preparação e entrega dos pedidos feitos na loja virtual.
Na prática, os produtos do fornecedor são divulgados no site da loja, o cliente faz a compra normalmente e, após o pagamento, o fornecedor é notificado com os detalhes do pedido para que possa entregá-lo.
Dessa maneira, há uma divisão de responsabilidades, e não há preocupação nem com o estoque e nem com a logística de entrega do produto. Outro benefício é que há a possibilidade de oferecer uma boa variedade de produtos no site, afinal, eles não serão comprados de forma antecipada.
Essa lógica parece simples, não? Porém, seguem mais alguns detalhes para que não ocorram problemas no futuro.
Em primeiro lugar, é preciso estar ciente que, por mais que o fornecedor envie o produto diretamente para o cliente, é a loja que será responsável por aquela compra, além de ter que emitir nota fiscal de venda, arcando com custos de impostos.
A recomendação é trabalhar com fornecedores de confiança, com os quais haja uma boa comunicação.
3. Integração das lojas físicas
A terceira estratégia é para lojas virtuais que também possuem uma cadeia de lojas físicas de cerca de 5 ou 10 lojas. Essa estratégia consiste em integrar todos os estoques das lojas físicas em uma única visão para o e-commerce e é uma das principais estratégias de omnichannel.
Quando um pedido é realizado, a plataforma de e-commerce já identifica automaticamente qual é a loja que será responsável por entregar aquele item para o cliente final. Se um pedido tiver mais de um item de lojas diferentes, o sistema deverá ser inteligente para entender esse cenário.
Nesse modelo, precisamos ter dois pontos de atenção:
- a) A plataforma de e-commerce deve ser bastante inteligente para traçar o cenário acima descrito, e também ser flexível para fazer com que o faturamento seja emitido por cada uma das lojas responsáveis pelo envio do produto;
- b) Quando essa estratégia é implementada, deve haver uma combinação também com os vendedores. Se a loja virtual vende o único item disponível na loja física e ele foi vendido, o vendedor não poderá mostrar aquele produto a um cliente. É muito importante que sejam implementadas regras claras para os vendedores ou até para os casos de comissionamentos diferentes.
4. Marketplace
Outra possibilidade, um pouco mais ousada, é expandir a atuação da loja virtual para um marketplace.
Um marketplace funciona quase que na mesma lógica de um e-commerce tradicional. Ou seja, é possível encontrar diversos produtos, fazer comparações, ver categorias e finalizar a compra.
A diferença é que o responsável pelo estoque e produto não será o marketplace, e sim as lojas virtuais da base, geralmente de menor porte, que cadastraram os seus produtos para vendê-los a partir daquele site.
Ou seja, o marketplace disponibiliza a plataforma para quem quer vender e quem quer comprar algum produto. Como exemplo, podemos citar o Mercado Livre, que trabalha dessa maneira há anos.
A realidade é que hoje existe uma série de tecnologias disponíveis para transformar uma loja virtual em um marketplace. Então, se essa for a ideia escolhida, basta planejá-la de forma completa e encontrar um braço tecnológico para auxiliar nesta tarefa.
Portanto, é possível, como pudemos ver, montar uma loja virtual sem estoque!